quinta-feira, 16 de junho de 2011
Histórias da Vila
Há um caminho forjado por imigrantes, antes da Vila tornar-se imã para a boemia, arte, e para o charme no comércio.
Quem não conhece o Manuel Palace Bar ou simplesmente o bar do Manuel, na Medeiros de Albuquerque – quase em frente ao Quitanda? Um dos últimos redutos do autêntico ‘boteco’, lá reúnem-se pessoas que se conhecem há décadas. Mas poucos sabem a verdadeira história do proprietário.
Nascido Manoel Augusto Fernandes Amorim, em Portugal, na remota Aldeia Bria, próximo à Espanha, manuel, como é chamado pelos fregueses, chegou ao Brasil aos 14 anos, em 1958. Foi direto para o Rio de Janeiro, alojar-se na casa do Tio, em Belford Roxo – a trabalhar em sua padaria. “Acontece que eles não me pagavam, diziam estar juntando meu salário para repassar-me mais tarde”, diz. “Até um dia que me enchi e parti rumo a São Paulo.” para trabalhar em outra padaria.
A peregrinação de manuel em terra paulistana passa pelos bairros Bom Retiro, Vila Mariana e Ipiranga, antes de aportar na Vila Madalena. Como um bom português, sempre atuando no segmento da panificação. Acontece que o dedicado comerciante morava naqueles idos anos, no Jardim Paulistano, km 12 da Rodovia Raposo Tavares – onde tem casa até hoje. Foram muitos os dias em que teve de recorrer ao saudoso ‘negreiro’, ônibus que recolhia os últimos pedestres que haviam perdido o derradeiro transporte ‘oficial’.
Sempre com um pacote de pão sob o braço, o português caminhava – sobre chinelos – 40 minutos antes de chegar à casa. “Batalhei muito nesta cidade. Mas nunca esmoreci”, afirma, com orgulho, o pai de três filhos já adultos. Na Vila, Manuel foi administrar o Canto Madalena, restaurante localizado a poucos metros do atual bar – e morar nos fundos do estabelecimento. Eis que morre o proprietário e toda a pendurada fiscal veio estourar em suas mãos. “Como o contrato era de cinco anos passei todo este tempo indo ao Fórum”, lembra.
Há 13 anos, Manoel tem o Palace. À época do Canto conheceu Maria Alice, a esposa que pilota até hoje sua cozinha. Amiúde os filhos invadem o recinto, principalmente o caçula Wilson, vulgo wil, que tornou-se um agitador cultural do bairro. “Não gosto das tatuagens desse menino. Outro dia ele apareceu com uma lágrima tatuada no rosto. Pode uma coisa dessas?”, reclama manuel-pai. (will tem inúmeras tatuagens no corpo).
Curiosidade: em 1988 Manoel visitou pela primeira vez o pai, em terra lusitana. Recebeu de presente sua certidão de nascimento. “Está neste estado porque eles a guardavam na cozinha, entre a fuligem de anos das panelas de mamãe”.
Há dois slogans nas paredes do Palace Bar – além de uma infinidade de fotos: os dos times Portuguesa e Corinthians (segundo ele, seu time do coração). “Esse da portuguesa foi um amigo que trouxe de presente”, disfarça.
*Na foto sobre o balcão – de vidro –, o que parece ser um pastel, é, na verdade, a capa da certidão de nascimento.
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